terça-feira, 10 de novembro de 2009

Copenhague/09

Nuvens marrons e as geleiras
Por Keya Acharya, da IPS
Nova Déli, 10/11/2009 – Sem importar qual seja o resultado da conferência internacional sobre mudança climática de dezembro em Copenhague, haverá aumento de 2,5 graus centígrados nas temperaturas do planeta. O diretor de Ciências Atmosféricas do Instituo Scripps de Oceanografia na Universidade da Califórnia-Berleley, Veerabhadra Ramanathan, previu que esse aumento será causado pelas “incrivelmente complexas camadas” de contaminação que chamou de “nuvens atmosféricas marrons” (ABC, sigla em inglês). Em uma reunião da Federação Internacional de Jornalistas Ambientais realizada na capital da Índia no mês passado, Ramanathan alertou que se os governos se voltarem à redução das emissões de gases causadores do efeito estufa mas não combaterem igualmente as ABC, praticamente não se poderá deter o aumento das temperaturas.“Mesmo se a Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP 15) do mês que vem em Copenhague tiver êxito em acordar uma redução até 2050 de metade de todas as emissões de gases-estufa, que atualmente chegam a 8,5 bilhões de toneladas ao ano, estas permanecerão na atmosfera por mais de cem anos”, explicou Ramanathan. “Portanto, mesmo a COP 15 tendo êxito, haverá aumento de 2,5 graus no aquecimento do planeta”, ressaltou. Espera-se que nessa reunião de duas semanas na capital dinamarquesa seja adotado um tratado mundial muito mais ambicioso do que o Protocolo de Kyoto, que expirará em 2012.As ABC são densas camadas de smog que pendem a um baixo nível na atmosfera, especialmente nos Estados Unidos. São plenamente visíveis em cidades como Nova Déli, Los Angeles e outras do Brasil e da África, embora as mais densas se encontrem na China e na Ásia meridional. Esse smog é formado fundamentalmente pelo “negro de carbono”, fuligem liberada pela queima incompleta de combustíveis fósseis e outras matérias orgânicas como a madeira. Seus principais emissores são os fornos à lenha e os automóveis, especialmente os que usam óleo diesel.Ramanathan, junto com o maior especialista indiano em glaciais, Syed Izbal Hasnain, do Instituto para Recursos de Energia, em Nova Déli, e de Rajesh Kumar, chefe cientifico de glaciologia no Instituto Birla de Tecnologia, na cidade indiana de Rajashtan, concordaram que as ABC estão causando o derretimento das gelerias. Kumar afirmou que os glaciais do Himalaia retrocedem ao ritmo de 21,3 metros por ano. As emissões mundiais totais de fuligem chegam a, aproximadamente, oito milhões de toneladas. Os fogões à lenha contribuem com cerca de 25% das camadas do negro de carbono, e as queimadas ao ar livre com 42%.As ABC dão um “duplo golpe” negativo, pois deixam presos os gases-estufa em um baixo nível na atmosfera e bloqueiam a entrada da luz solar, disse Ramanathan. Segundo o Painel Intergovernamental sobre a Mudança Climática (IPCC), vinculado à Organização das Nações Unidas, o negro de carbono é o componente que mais contribui para a formação das ABC, representando 55% de sua estrutura em determinadas áreas da atmosfera. Os demais são ozônio, metano e halocarbonos.Quando Ramanathan descobriu que as ABC são formadas em grande parte pelas emissões dos fogões à lenha – descobertas publicadas pouco antes da Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável realizada em Johannesburgo em 2002 – muitas nações do Sul expressaram descontentamento, especialmente a Índia. Pouco antes, o cientista havia chamado o fenômeno de “nuvem asiática marrom”, até descobrir que esta se estendia além deste continente. O Centro para a Ciência e o Meio Ambiente (CSE), com sede em Nova Déli, acusou Ramanathan de desviar a atenção da responsabilidade dos Estados Unidos e de outros países industrializados em reduzir as emissões atmosféricas bem antes da conferência na África do Sul. A diretora do CSE, Sunita Narain, afirmou que o informe de Ramanathan, além de ter caráter político, não oferecia nenhuma solução para os milhões de pessoas pobres da Ásia meridional e do sudeste que dependem de fogões à lenha para cozinhar. “Manejamos o tema do ponto de vista científico, sem as implicações humanas, por isso me equivoquei”, admitiu Ramanathan em Nova Déli na semana passada. Mesmo assim, “não entendo o motivo de a Índia colocar-se na defensiva”, disse o cientista. “Suas emissões de dióxido de carbono são inferiores a 2,5%” do total mundial”, afirmou.As ABC ameaçam as montanhas do planeta como nunca antes. Imagens obtidas via satélite da Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço (Nasa, dos EUA) mostram partículas negras de carbono sobre o Monte Everest. Além de os gases que provocam o efeito estufa ficarem presos sobre as neves, o aumento da temperatura derrete as geleiras. A organização não-governamental francesa Grupo para Energias Renováveis, Ambiente e Solidariedade (Gere) disse que o retrocesso das geleiras já é uma realidade em todo o distrito de Ladakh, no Estado indiano de Jammu e na Caxemira. A Gere analisou informação meteorológica desde 1973 e descobriu aumento superior a um grau nas temperaturas de inverno em Ladakh, um drástico aumento nas temperaturas de verão entre julho e agosto, e uma forte queda das nevadas de dezembro a março. A boa notícia sobre o negro de carbono, disse Ramanathan, é que pode ser removido em até 10 dias se forem tomadas as medidas adequadas para deter sua emissão.Ramanathan e Hasnain agora pressionam o setor de transporte da Índia. “Poderíamos começar a tornar obrigatório o uso de filtros de partículas para óleo diesel nos caminhões”, disse o po negro de carbono, disse Ramanathan, é que pode ser removido em até 10 dias se forem tomadas as medidas adequadas para deter sua emissão.Ramanathan e Hasnain agora pressionam o setor de transporte da Índia. “Poderíamos começar a tornar obrigatório o uso de filtros de partículas para óleo diesel nos caminhões”, disse o primeiro, mas, esclarecendo que também é preciso que as demais nações industriais reduzam suas emissões de gás-estufa. “Assim como o envolvimento da Ásia é chave para reduzir as futuras emissões do negro de carbono, também é fundamental a liderança da Europa e dos Estados Unidos para reduzir o aquecimento”, afirmou Ramanathan. A possibilidade de eliminar o uso de fogão à lenha nas populações pobres da Ásia está muito longe. Seria preciso fornecer um combustível alternativo, reconheceu o cientista. (IPS/Envolverde)(IPS/Envolverde)

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