quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Terceiro Setor do Brasil interessa a HARVARD

Vandré Brilhante*


Durante uma semana participei de um curso promovido pela Harvard Business School, em Boston, EUA, com mais 152 líderes de organizações sem fins lucrativos de todo o mundo. Diversas escolas de Harvard se juntaram sob a coordenação da Escola de Negócios para promover o evento, como a Escola John Kennedy de Direito e a Escola de Gestão Pública. Os números do grupo reunido impressionam: as 150 entidades presentes administram um orçamento anual de 5 bilhões de dólares e empregam mais de 28 mil pessoas nos cinco continentes. Essa pequena amostra traz à luz a dimensão econômica do Terceiro Setor.

Dos debates, algumas conclusões: há uma clara mudança internacional que redireciona o papel destas organizações para uma atuação mais focada, necessária em muitas sociedades, ricas e pobres. Nos Estados Unidos, símbolo de país rico, a educação pública passa por teste de fogo. Alto índice de evasão, baixa qualificação do ensino e um Governo Federal sem um plano integrado de revisão e melhoria do ensino público que volte a garantir competitividade econômica ao país. Na Europa, o desemprego juvenil e a falta de prospectivas econômicas de muitas sociedades se refletem em inúmeros problemas sociais antes não existentes e que não têm em seus governos estruturas adequadas para o enfrentamento efetivo. Já na Índia, os problemas sociais são abordados com um alto grau de criatividade, servindo de modelo para vários outros países, mas que devem ser estudados com cuidado devido a especificidade cultural do país.

Nesse cenário, fomos envolvidos em muitas discussões, absorvendo de cada um deles lições para nossa ação institucional. Podemos afirmar que nós, brasileiros, estamos avançados em vários aspectos com relação à gestão criativa. Somos mais orientados a atuar em parceria com governos, visando a consolidação de políticas públicas; e junto a empresas, reforçando suas ações de responsabilidade social empresarial. Somos mais realistas com relação a custos reduzidos na implementação de projetos e ao mesmo tempo, abordamos mais as causas do que as consequências das mazelas sociais. Por outro prisma, somos ainda muito fragmentados enquanto representação organizada de setor, em desenvolvimento institucional e também em alavancagem de recursos financeiros.

De uma forma geral, as perspectivas indicam, além do crescimento de importância das ações do Terceiro Setor, a necessidade de as instituições desenvolverem mais suas gestões, estudando novas possibilidades de atuação em parceria, tirando proveito das novas tecnologias sociais cada vez mais presentes na vida de todos e, também, buscando orientar suas atuações e estratégias para a consecução efetiva de suas missões, mesmo que isto implique em rever as mesmas.

Os problemas sociais de hoje se aceleram em magnitudes exponenciais levando milhões de cidadãos a uma classificação social de pessoas não classificáveis, refugiados, moradores de ruas com problemas mentais, conflitos étnicos e raciais, pobreza extrema, disseminação de drogas cada vez mais destruídoras, dentre outros. Quem quer trabalhar esses problemas como sua ação principal? Como ser efetivo quando o resultado não pode ser medido através da equação produtos versus custos?

Para nós, líderes dessas organizações, fica como lição de estarmos construindo uma estrada que possibilite a milhões de pessoas a dignidade mínima de sentir-se incluído no lado bom do desenvolvimento econômico e da modernidade. O lado da saúde, alimentação, diversão, trabalho e educação.

*Economista e diretor-presidente do Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável - CIEDS


fonte: http://www.folhape.com.br/index.php/caderno-cidadania/663394?task=view

Nenhum comentário:

Postar um comentário