terça-feira, 30 de agosto de 2011

IPEA - Estado de Minas - O papel do Terceiro Setor - Fabio Rocha do Amaral

Ações dessas organizações transcendem a filantropia e influem no crescimento econômico

Fábio Rocha do Amaral

Membro do Conselho de Administração

do Banco Cruzeiro do Sul

Ao enfatizar os "bons exemplos para o mundo" que a América do Sul tem dado no combate à pobreza, direitos humanos e aperfeiçoamento da democracia, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, na visita ao sub-continente, em junho, suscitou uma reflexão importante sobre os avanços observados em países da região. O caso mais emblemático é o do Brasil, que venceu a crise de 2008/2009 sem aumento do contingente populacional pobre e, mais do que isso, incluiu cerca de 30 milhões de pessoas nos benefícios da economia e se tornou uma nação predominantemente de classe média. É desnecessário repetir aqui as conhecidas políticas públicas que têm contribuído para essa evolução. Porém, é primordial salientar um aspecto pouco lembrado desse processo: o aprimoramento da democracia, que não se limita às instituições, aos poderes constituídos e à política. O grande salto, nesse quesito, foi a maior participação da sociedade no enfrentamento e soluções dos problemas nacionais.

Tal diagnóstico é perceptível cronologicamente no periódico estudo Ação Social das Empresas, realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Nos seis anos compreendidos entre 1996 e 2002, o terceiro setor cresceu 157% no país. À época, já existiam 276 mil organizações da sociedade civil em funcionamento, empregando 1,5 milhão de pessoas. Na segunda e até agora última edição da série, verificou-se expansão significativa, entre 2000 e 2004, na proporção de empresas privadas que realizaram ações sociais em benefício das comunidades. No período, a participação corporativa aumentou 10 pontos percentuais, passando de 59% para 69%. O número de organizações que estavam atuando voluntariamente já havia alcançado 600 mil, com investimentos de R$ 4,7 bilhões no social.

Pesquisa recente, abrangendo 8.930 empresas, empreendida pelo Instituto ADVB de Responsabilidade Socioambiental, mostra que 85% das entrevistadas entendem as atividades no âmbito do terceiro setor como integrantes de sua visão estratégica. Em 82%, a alta direção envolve-se diretamente com os programas. O relatório evidencia, ainda, que os projetos têm foco correto ante as demandas brasileiras, considerando as cinco principais áreas às quais os investimentos são direcionados: educação, cultura, meio ambiente, qualificação profissional e esporte. Percebe-se com clareza que o exercício da democracia participativa tem possibilitado e estimulado intervenções profundas do setor privado no social, contribuindo para a boa performance da economia, melhoria do ambiente de negócios e ampliação do mercado consumidor. Portanto, as ações do terceiro setor transcendem à importante e imprescindível filantropia, tornando-se cruciais para o sucesso das empresas e do país. Que se mantenha e se amplie essa visão lúcida e contemporânea, para que, na sua próxima visita, o secretário-geral da ONU encontre um Brasil que já tenha promovido a inclusão socioeconômica dos 17 milhões de habitantes que hoje ainda vivem sob o flagelo da miséria.





Fonte:

http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=10185&Itemid=75

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